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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Aproveitar bem nosso tempo

Lembro-me do tempo em que morava no norte deste Brasil,
No interior de um dos estados amazônicos
Numa vilazinha, tão pequena, que contávamos as casas a dedos
Casinhas todas cobertar de palha de coco babaçu
Paredes feitas de barro amassado aos pés (pau-a-pique)
Outras vestidas também da própria palha
Piso de chão batido, cimento era coisa desconhecida
Portas tecidas da palha verde trançada do coco babaçu
Água, tínhamos à vontade, matas também

Crianças iam para a escola de todas as idades
Muitas na mesma sala de aula, de várias as séries
Professora, a tia de todos, se desdobrando
Desempenhando o papel de educadora, diretora, secrecária, agente social
Eu, particularmente iniciei os estudos aos sete anos (oficialmente)
Porque d`antes meio que clandestino, estudava às escondidas

Neste tempo, aprendi muito com a simplicidade do povo
Povo humilde, tanto, que a cada vez que abatia uma galinha
Dividia os pedaços com a vizinhança toda
Sempre estavam dispostos a ajudar alguém
Com o o pouco que tinham, fome não tinha vez entre eles

Cresci, conheci vários lugares, cidades, estados, gente, muita gente
Hoje vivo rodeado de casas, apartamentos, portões, prisões
Por enquanto nada meu
Ah, a cidade grande me engole
Pessoas atônitas, eufóricas, sem tempo
Bom dia, é artigo de luxo
Gentileza então, ah esta sumiu do mapa, é artigo raro

As casas de hoje são repletas de uma parafernália tecnológica
É botão pra isto, controle para aquilo
Tudo querendo entreter, informar, facilitar a vida de todos
Feitas com o intuituo de sobrar tempo ao povo, cada vez mais sem tempo

Ah que saudades daquele tempo, em que tínhamos tempo!
Que fazer com este tempo, que não nos permite tempo de cuidar do próximo?
Cuidar de sí, cuidar de nós?
Que tal, encontrar um tempo, para aproveitar melhor nosso tempo?