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quarta-feira, 6 de março de 2013

A lata de leite condensado

Houve uma época em que minha avó foi passar uma temporada com minha mãe, lá pras bandas do interior do estado do Pará, eu tinha sete anos, e neste período as pastagens não estavam muito boas no que resultava a escassez do bom e velho leite de vaca, e minha avó pelo menos ao acordar no amanhecer, tomava um copinho de leite. Pois bem na falta de leite de vaca, a primeira solução seria comprar leite em pó mas na quitanda seu preço não era dos melhores, "custava os olhos da cara", a outra solução seria dissolver o leite condensado que talvez durasse um pouco mais por um pouco menos de preço.
Minha mãe comprou uma lata de leite condensado de uma marca conhecida, fez dois furinhos um menor para respirar e outro um pouco maior para que o leite condensado pudesse sair naturalmente da latinha dissolvendo na água, a vantagem é que já saia adoçado. (rsrs)
Penso que o leitor sabe como é criança, sempre cheia de imaginações, ideias e engenharias (rsrs). Pois bem, notei que minha mãe deixava longe do meu alcance na parte mais alta da prateleira porta-copos fixada à cantoneira de madeira própria para acomodar o filtro e o pote de água. Fiquei curioso com aquela latinha lá em cima, peguei um banquinho conseguindo alcançá-la dei uma boa chupada de leite condensado, com frio na espinha, medo de minha mãe aparecer, ai ai se ela visse a coisa não ficaria boa! Fui repetindo esta travessura até que dona Rita percebesse o rápido esvaziar do conteúdo. Num dado momento fui interrogado pela minha mãe: Sr.Claudio quem mexeu na lata de leite condensado? Ao que respondi: Não sei não senhora, sei que não fui eu.
Dona Rita, professora, fez as contas em seu raciocínio lógico e continuou: Muito bem, moramos em três pessoas nesta casa, agora somos quatro com sua avó, vejamos, eu aqui sua mãe me isento da faceta já que fui eu que dei falta, seu tio (meu padastro) não está em casa nestes dias, sua avó não conseguiria subir em uma cadeira, quem é que sobra? Papagaios, levei uma surra daquelas até confessar minha travessura.
Não contente, eu que ajuntava um dinheirinho resultado de alguns favores que fazia aos colegas preguiçosos, corri na quitanda comprei uma lata de leite condensado "novinha em folha" voltei para casa ao encontrar minha mãe na tentativa de reparar o erro expressei: Olha aqui dona Rita sua lata de leite condensado nova, intacta! Foi aí que o tempo fechou, levei outra surra bem mais reforçada que a primeira e como se não bastasse fui induzido a desfazer a compra.
Velhos tempos, recordações de uma infância paupérrima recheada de uma boa educação relevante para a formação de meu caráter. Tornei-me o homem que sou graças à educação sob os olhos atentos de minha mãe.
Hoje com o "ECA" a sociedade defende uma criação sem correção mais enérgica, pais não podem dar uma "surrinha" nos filhos sob pena de perder a guarda. Não quero fazer apologia a nenhum método de criação, entretanto dizer que minha geração do final dos anos sessenta formou homens e mulheres mais responsáveis, submissos aos pais, mais amigos dos filhos.
Tempos bons, bons tempos que não volta mais!

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