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sexta-feira, 8 de março de 2013

O riacho mamuí

Era menino, ainda pequeno fui sendo apresentado aos tios por parte de minha mãe. Aos poucos fui me familiarizando com aqueles mais velhos que juntos somavam dez incluindo minha mãe. Em sua maioria moravam longe distribuídos em três estados da federação. Lembro-me que quando morávamos no interior do estado do Pará, íamos à cidade de Guaraí visitar minha avó Raimunda (in memoriam) e minha tia Isaura, aproveitávamos para dar uma passada no Mamuí, município de Colméia e visitar minha tia Lourdes (in memoriam).
O rancho da tia Lourdes era todo feito de palha extraídas das palmeiras de côco babaçu, desde as paredes ao telhado, sua aparência chamava a atenção por estar distribuído em duas casas interligadas por um pequeno corredor, uma servia de um grande quarto do casal, separado também para as meninas, e uma grande sala de visitas que às noites também se transformava em dormitório para os meninos, demais membros da família bem como aos visitantes acomodados em redes. A outra por sua vez ostentava a cozinha com aquele fogão a lenha feito e polido de barro, a sala de jantar e o paiol para guardar os alimentos. Todos sempre bem cuidados, limpos, curral bem tratado e aquele quintal sempre bem varrido.
Ao amanhecer, tia Lourdes ao comando do fogão preparava o desjejum, café da manhã reforçado, afinal o pessoal do sítio não tem regulagem na comida, privilegiados por uma boa alimentação saudável em sua maioria sem agrotóxicos, acordam cedo para o trabalho braçal. Que cheirinho bom de leite fresco, fervido e aquele café torrado e moído à moda antiga! E os bolos, o milho verde assado, o curau de milho, ai que saudades daquela farofinha!
Bem após o café, tia Lourdes tratava de providenciar o almoço, colhia os legumes ao quintal, jogava grãos de milho ou arroz à atrair as galinhas. Que agilidade! Em poucos minutos ela surpreendia aos frangos e galinhas caipiras, e precavida em não faltar comida matava dois ou três, em pouco tempo fazia a limpeza e preparava aquele saboroso almoço. Enquanto isto tratávamos de colocar os assuntos em dia.
Após o almoço colhíamos bananas, mamão e demais frutas da época garantido o lanche da tarde, íamos ao riacho mamuí um pouco afastado do rancho, coisa de uns dois ou três quilômetros. Suas águas frias correndo por entre as pedras, vez ou outra formando volumes mais profundos onde brincávamos arriscando os saltos e mergulhos. Que tempo bom, perdíamos a hora de voltar, relutávamos em deixar o mamuí, que águas!
Minha tia Lourdes se foi, os meninos cresceram, quase todos se tornaram pais e mães, foram morar longe uns dos outros, poucos retornaram, e o velho mamuí continua lá com suas águas frias esperando alguém a ouvir o canto das águas, a tentar fisgar seus peixes, a brindar o sertão em meio às serras, a contar seus contos.
Presentes de Deus!

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